No calendário rotário, o mês de outubro
representa o Mês dos Serviços Profissionais. O quadro social do Rotary tem por
base as profissões dos seus integrantes, sendo que cada clube busca refletir a
diversidade profissional e empresarial da comunidade na qual está inserida.
Este aspecto oferece a base para o compromisso histórico do Rotary com os
Serviços Profissionais, que é a segunda Avenida de Serviços da organização.
Através dos Serviços Profissionais, os
rotarianos aplicam e promovem altos padrões éticos em seus negócios, reconhecem
o valor de todas as ocupações úteis à sociedade e utilizam as suas habilidades
no atendimento de necessidades sociais.
O Rotary Clube do
Funchal integrar-se-á nas comemorações desta mensagem ética e moral, atribuindo
a distinção de Profissional do Ano 2012 ao bombeiro José Márcio Pinto de Castro
da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários Madeirenses. Por iniciativa
do Rotary Clube do Funchal, foram os próprios colegas do bombeiro que o
seleccionaram para esta distinção, que, antes de mais, pretende dignificar e
notabilizar os esforços e sacrifícios dos bombeiros voluntários, prestados com
abnegação e dedicação, aquando dos incêndios de Julho passado.
O referido bombeiro foi
alistado em Abril de 2009, terminou o curso de bombeiro de 3ª classe em
Dezembro de 2009 e possui os cursos de tripulante de ambulância e combate a
incêndios urbanos e industriais para equipas de 1ª intervenção.
A distinção será
entregue no âmbito do almoço comemorativo, agendado para o dia 9 de outubro,
terça-feira, pelas 13 horas, no Hotel Meliã Mare, no Funchal.
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Companheiro António Bruno Afonso
O Rotary Clube do Funchal prestou
homenagem ao companheiro António Bruno Afonso, na cerimónia de transmissão de
tarefas dos conselhos diretores de 2011e 2012, que decorreu no dia 13 de Julho
de 2012, no Hotel Meliã. Foi com enorme prazer e carinho que o companheiro
António Borges entregou o diploma de sócio honorário ao sócio nº1, pelos 50
anos ao serviço do Clube. Nascido a 6 de outubro de 1914, em S. Roque, António
Bruno Afonso, foi admitido no Clube a 15 de fevereiro de 1962, com a
classificação de farmácia de oficina, tendo sido apadrinhado pelo Engº Renato
Silvério Gonçalves Jardim.
Licenciado em farmácia pela
Universidade do Porto, em 1946 (vide repositório da Faculdade de Farmácia da
Universidade do Porto, http://hdl.handle.net/10405/31379), destacou-se, na Madeira, de então, pela
implementação da primeira farmácia de oficina,
no Funchal. Uma breve incursão sobre o papel do farmacêutico, divulgado
no documento da ordem dos farmacêuticos, estabelecida em 1835, disponível na
internet, leva-nos a identificar cinco grandes linhas de atuação, a saber: “uma profissão ao serviço da vida, o farmacêutico
especialista do medicamento, o farmacêutico na sociedade, o farmacêutico e a
qualidade, o farmacêutico e a mudança”. Foram precisamente estes os marcos
assinalados na sua vivência na Ilha da Madeira.
Iniciou
a sua profissão na Farmácia Santa Maria, tendo mais tarde passado para a Botica
Inglesa. Os seus preciosos conhecimentos na confeção de manipulados representavam
uma mais-valia para qualquer farmácia. Foi diretor técnico na farmácia Dois
Amigos e, mais tarde, convidado para a inspeção do serviço farmacêutico, também
para expandir este serviço às zonas rurais, nomeadamente: Santana, Boaventura e
Porto da Cruz. Tais responsabilidades requeriam um grande esforço profissional
e humano. Ao longo da sua vida profissional teve várias representações farmacêuticas,
montou um armazém e foi sócio fundador da Farmadeira. Convidado a título
gratuito, aceitou, ainda, fazer parte da Vereação da Câmara do Funchal, durante
mais de um mandato. Já proprietário da Farmácia Luso Britânica, recebe o
convite do seu grande amigo, Engº Renato Jardim, para se tornar Rotário.
Da longa vivência em Rotary, destacam-se as tertúlias em que
participou e promoveu entre médicos, a
promoção do serviço humanitário e a divulgação, entre todos na comunidade, da
consciência dos valores éticos, além da imagem pública. Participou
em Convenções Rotárias e visitas a vários
clubes rotários, no estrangeiro. O seu ano de presidência, em 1966/67, no RCF, foi bastante vivo, pontuado com inúmeras
palestras, realizadas, na altura, no Hotel Stª. Isabel, de elevado interesse
para o mundo rotário e para a Madeira. O quadro social continha, nessa época,
um forte e numeroso número de companheiros licenciados em medicina, o que promoveu,
semanalmente, um interessante dialogo
após as intervenções de, entre outros, Nélio
Mendonça, Vasco Paiva Brites, José Avelino Gonçalves, Joaquim Ferraz Simões,
Mario Barbeito de Vasconcelos, Tomás Pitta da Silva, Luis Sotero Gomes, Arlindo
Mendes, Jaime Jardim Fernandes, Alivar Cardoso, João Florêncio de Aguiar e
Mário Leão Albuquerque. Foi durante a sua presidência que se verificou a
criação de outro Clube no Funchal com objetivos semelhantes, o Lions Clube.
Foi, igualmente, na sua presidência que o RCF, e a Madeira, foram distinguidos
com a visita do Presidente do Rotary
Internacional, Richard Evans, e os presidentes indigitados para os anos de 1967/68
e de 1968/69, Luther Hodges e Kiyoshi Togasaki, respetivamente, tendo o RCF proporcionado,
aos visitantes, extensa visita à Ilha da Madeira e acolhedora receção noturna.
Até
aos nossos dias, António Bruno Afonso, jovial como sempre, continua a
oferecer-nos um grato exemplo da forma de estar em Rotary. A sua
homenagem é de todo relevante para que ponderemos sobre a importância da
continuidade, da colaboração e do dinamismo na vivência rotária e na
comunidade.
Alcina Sousa
(Presidente do RCF)
Domingos na Casa do Caniçal (1)
- uma lembrança de Ana Margarida
Falcão para o Dr. Bruno Afonso -
No tempo dos meus Verões de criança, e até aos meus
dezassete anos, vivi com os meus pais e avós numa casa grande e citadina.
Embora a nossa casa se situasse perto do Jardim Municipal, onde brincava e
convivia com a natureza, era sempre com uma alegre espectativa que aguardava as
saídas do funchal, nas férias grandes. Camacha, Santo da Serra e Caniçal foram
sítios que povoaram para sempre a minha memória com momentos alegres, felizes e
despreocupados. Na Estrada da Camacha, a casa de meu pai e, mais acima, Camacha
adentro, a quinta dos Vasconcelos; no Santo, a casa dos Gomes e, no Caniçal, a
casa de Bruno Afonso. As estadias nas várias casas distribuíam-se por todo o
Verão, umas mais breves outras mais prolongadas, consoante os anos e a
disponibilidade de uns e de outros.
Os fins de semana que me criavam maior espectativa de
divertimento e aventura eram na casa do Dr. Bruno Afonso, no Caniçal. Amigo
íntimo de meu pai, apesar de o tratar sempre por «Falcão», e do Eng.º Renato
Jardim, a quem chamava «pai Renato», Bruno Afonso e sua mulher, a alegre,
enérgica mas tão doce Ilda, amante de flores e jardins, juntavam quase sempre
as três famílias e os respectivos filhos. Assim, tento enumerar a troupe
habitual:- cá de casa «os Falcões», ou seja, eu, os meus pais tão queridos,
Francisco e Bernardete, os meus avós, Zé Simões e Judite, que ainda me parece
lá ver, quase sempre na sombra; vinham depois «os Renatos» - a avó Isabel, (tão
alegre, brincando com a minha avó como se jovenzinhas fossem, e o meu pai e o
Bruno Afonso sempre na paródia, a meterem-se com elas), e o «pai Renato»,
sempre avisado e prudente, sempre atendido pela mulher, a Ângela, terna,
apaziguadora de conflitos mas sempre com um brilho maroto no olhar (os meus
filhos, anos mais tarde, haviam de os tratar por Avô e Avó) e ainda os três
filhos do casal, a inteligente e sensível Isa, minha melhor amiga apesar de um
pouco mais velha, o Luís Ernesto, sorrateiro e matreiro nas desobediências, e a
Maria Helena, a mais nova, a engendrar com o Gerardo as mais loucas e perigosas
brincadeiras. Falta ainda juntar os filhos do casal Afonso, a loura e bem
comportada Anita e o já mencionado e estouvado Gerardo.
Sendo seis as crianças, todas pela mesma idade, com três a
cinco anos de diferença (mais cinco vizinhos de que adiante falarei), é de
adivinhar que as peripécias e aventuras com que eu sonhava, e que imaginava
para esse fim de semana, acabassem por tornar-se realidade, e, mesmo,
ultrapassar o previsível, com desfechos mais ou menos engenhosos e
felizes, mas cuja infelicidade não
ultrapassava nunca, talvez por milagre divino, os arranhões pintados com
mercúrio ou a indigestão de chocolate. A casa não era enorme em tamanho, apesar
dos arredores com piscina que desciam depois em zigue-zague quase vertical até
ao cais de pedra com escadas para o mar, mas era uma casa imensa em calor
humano e amizade sincera, pois era realmente necessária muita boa vontade para
acomodar, alimentar e divertir todos. O facto é que também todos ajudavam,
desde a comida à limpeza e à elaboração de camas, na sua maioria improvisadas.
Sempre de boné de marinheiro, como comandante à proa do navio, um sorridente e
bonacheirão Bruno Afonso presidia a todas as andanças, sobretudo as do
exterior, que incluíam mudar a água da piscina, supervisar escaladas nas rochas
junto ao cais, alertar os que se atreviam a mergulhos mais ou menos proibidos
(…e lá vinha uma apitadela sonora do «comandante Bruno»!), e ainda organizar
passeios de barco a remos ou na «Mitzi» do Eng.º Renato, e planificar, muitas
vezes com os vizinhos, serões que se prolongavam do fim do dia pela noite fora.
Como pessoa afável e bem disposta que era, o Dr. Bruno
Afonso mantinha íntima relação com os vizinhos que, aliás, poucos eram nessa época, configurando quase que um pequeno oásis naquele Caniçal onde só se
chegava por estrada de terra batida salpicada de pedras, após duas horas de
família bem arrumada dentro de um Ford Taunus. Assim sendo, a vizinhança desse
tempo resumia-se à casa dos Muller, onde o João Carlos Abreu, anos mais tarde,
vindo de Itália, havia de sentar-se no parapeito da varanda a tocar guitarra e
a cantar à desgarrada com a Elma, sendo interrompido pela Dalila e aplaudido ou
apupado pelo Carlitos e, ainda, pelos habitantes e visitantes das casas
vizinhas, conforme o gosto de cada um, o que gerava uma confusão enorme, à qual
punha fim o apito de polícia-marinheiro que o Bruno Afonso ainda guardava e que
saía à cena todos os anos e a qualquer hora do dia ou da noite. Em geral, a
Ilda Afonso pedia fados e, do outro lado, o vizinho, o Sr. Veloza (pai do
Ricardo, que já nessa altura esculpia nas
rochas, e da Maria João, que
acompanhava os mais afoitos nas correrias arriba abaixo e nos concursos de
«bombas» para o mar) exigia «romanzas», secundado pela mulher, a D. Leonor,
sempre serena e calma mesmo perante as maiores maluquices dos filhos e das
crianças vizinhas.
Muitas são as belíssimas recordações desses fins de semana
de aventura ou Domingos de amizade sincera passados na Casa do Caniçal e cujos
pormenores saltam sempre por prismas diversos e de variadas e alegres cores, de
cada vez que os relembro. Seria impossível dar aqui, sequer uma visão que lhes
fizesse jus. Limito-me, pois, a agradecer comovidamente à sempre lembrada e
querida Ilda e ao amigo Bruno Afonso as peças do puzzle da memória que guardo
preciosamente e que eles me possibilitaram deixar adormecer na lembrança, para
poder, de quando em vez, reconstruir alguns dos quadros mais alegres e felizes
da minha infância e da minha adolescência.
(1)A ortografia não actualizada é da responsabilidade da
autora.
Funchal, 6 de Setembro de 2012
Ana Margarida Falcão
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